Perfil│A luz de Maria

por: Amanda Costa

Maria, Maria, Maria é sorriso, alma e coração. Jovenzinha arretada se fez mulher na cidade de Porto Nacional, estado do Tocantins. Cigana sensual, casou, descasou e casou de novo. Hoje vive a alegria dos 63 anos bem vividos. Companheira inseparável do marido Severino de vida severina.

Moradora do Itatiaia em Goiânia, capital de Goiás, Maria é daquelas pessoas que não passa despercebida. As saídas sempre rápidas são para o supermercado, a feira e as vizinhas. Ela gosta de um dedo de prosa. Muito carinhosa embrulha em papel de presente as palavras: nega, linda, querida… Pessoas como a dona Maria deviam se multiplicar por mil.

As lembranças da infância tornam os olhos dela em fachos de luz. “Oh lugar de fartura. Comia muita melancia. E peixe, então? Adorava os pacus que minha mãe fazia. Ela pescava no rio Tocantins”. Já nessa época dona Maria via muito além do que sua retina registrava. “Eu batia o olho na pessoa e já conhecia a história dela”. “Li muita mão fia. Nunca pedi dinheiro, pois tinha consciência que Deus não ia gostar!”

Hoje no máximo que a leonina faz é escutar as previsões sobre seu signo no rádio. “Às vezes dá certo. Às vezes não!” As premonições ficaram para trás. Trancafiadas a sete chaves, após o pedido de um pastor. Se tornar evangélica trouxe mais paz para seu dia a dia. “Antes, tinha medo de dormir no escuro. De abrir a porta da casa à noite”.

Sabedoria adquirida do sofrimento lapidado, dona Maria tem sempre um conselho na ponta da língua. “Olha, quando for no centro toma cuidado com os malas, pois bolsa chique assim eles levam mesmo. Faz o seguinte: enrola o dinheiro em um papel e coloca no seio. Mas tem que ser um sutiã firme”. “Anota aí um remédio que toda mulher devia tomar pra evitar cólicas e sem falar o tanto que é bom pro útero – Raiz de algudãozim do campo, de pé de perdiz, um pedacim de barba timão e um de arnica e deixa curtir por 30 dias no vinho muscaté”.

Além de garrafadas, a casa de dona Maria é repleta de curiosidades. Sete espelhos e seis televisores. “Ué eu gosto de assistir jornal e o Severino às vezes quer ver outra coisa”. Duas já não resolveriam? Talvez sim. Mas, no fundo mesmo, metade são presentes que ela não quer desfazer. E os espelhos? Nem o tempo é capaz de retirar a vaidade da mulher. Dona Maria é dessas mulheres que se olha no espelho, passa o batom e sorri para si mesma. Não é a toa que tem no cabelo a cor viva da paixão.

Maria

Foto: Amanda Costa

Amanda Costa: Jornalista literária apaixonada pela vida, pelas pessoas e pelos lugares que conheço. Estudo dramaturgia e minha sina é contar boas histórias.

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